Lontras criadas em ONG são soltas em lagoa de Florianópolis
Pela primeira vez em quase 40 anos, filhotes de lontra foram soltos na natureza por um projeto que monitora a população desses animais na Lagoa do Peri, em Florianópolis. A espécie está na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Os filhotes são um macho e uma fêmea que foram criados pelo Projeto Lontra, que há quatro décadas atua na região. A mãe deles foi resgatada ainda bebê em 2016 sob a Ponte Hercílio Luz, cartão-postal da capital de Santa Catarina.
Segundo o coordenador de pesquisa do projeto, Marcelo Antônio Tosatti, o nascimento e a soltura dos filhotes, apelidados de “gêmeos”, representam um marco na conservação da espécie no Brasil. Tosatti afirmou que a espécie está com declínio populacional muito grande, e em alguns estados do Brasil, inclusive, está extinta.
Nos últimos oito anos, 14 filhotes nasceram sob os cuidados do projeto. Com a formação de uma população de segurança e a publicação do Plano de Manejo da Lagoa do Peri em 2024, os “gêmeos” puderam ser introduzidos à natureza, em uma ação inédita, por apresentarem um perfil com maior chance de adaptação a essa mudança.
O processo de soltura começou assim que eles nasceram. As lontras aram por exames e ficaram mais isoladas, sob os cuidados da mãe, enquanto saíam as autorizações dos órgãos ambientais. Agora, os animais serão monitorados por meio de armadilhas fotográficas, observações de campo e análise de vestígios como pegadas, fezes e marcações odoríferas por pelo menos um ano, permitindo que os pesquisadores identifiquem os hábitos dos animais e avaliem a adaptação deles ao novo ambiente.
A veterinária do projeto, Priscila Santos Esteves, comentou que a esperança é de que as lontras consigam viver sua vida natural, chegando à fase adulta e, no período reprodutivo, gerando filhotes, além de explorar o mundo. As lontras são animais semiaquáticos e vivem perto de rios, lagoas e do mar, sendo nômades, mas que costumam usar algumas regiões para reprodução e criação dos filhotes.
Apesar de no Brasil a espécie ser classificada como “Quase Ameaçada” (NT), em países vizinhos, como a Argentina, ela já figura como “Em Perigo” (EN). Além da perda de habitat, as lontras sofrem com a poluição dos rios, caça ilegal e tráfico de animais silvestres. A iniciativa é apoiada e supervisionada por órgãos ambientais como o Ibama, o IMA e a Floram.